En: [etnolinguistica] Museu do Índio ini cia programa de documentação das línguas indígenas

Bruna Franchetto bfranchetto at YAHOO.COM.BR
Sat Sep 29 17:58:21 UTC 2007


Respondo brevemente às mensagens de Renato Athias e de
Edwin Reesink, agradecendo-os pelas suas manifestações
e questionamentos.
Renato chama a atenção para a atuação dos missionários
(evangélicos) em áreas indígenas, enfocando o caso dos
Hupdah. É um tema que me é muito caro, digamos, há
muito tempo. Olhei rapidamente (lerei com mais calma)
o site dos missionários e os materiais produzidos pelo
projeto de magistério indígena. Os conteúdos
missionários são, no mínimo, assustadores, navegando
de noções totalmente equivocadas como ´animismo´,
´religião´, etc. a um aguerrido e pesado plano de
intervenção. O antropólogo arrepia. Tais missionários,
em todo o território nacional, estão numa fase de
claro ´revival´, após um período de aparente calmaria.
Não nego que o Programa de Documentação de Línguas e
Culturas Indígenas, que estamos propondo, tem entre
seus objetivos ocupar um espaço (nos limites do
possível, agora) muitas vezes ocupado pelos
missionários, que se arvoram ser paladinos da salvação
de almas e línguas, aquele famoso binômio ´salvar
línguas, aniquilar culturas´. A presença de um projeto
de documentação assim concebido pode se tornar uma
alternativa interessante para as comunidades
indígenas, em uma competição necessária e sadia com os
feitos missionários. Possiblitar escolhas reais
depende da oferta de alternativas viáveis. Sabemos bem
que os missionários se instalam lá onde há um vazio de
assistência de saúde e educacional, vazio deixado,
basicamente, pela omissão do Estado. Esperamos que as
coisas mudem no futuro próximo; nossa contribuição é
pequena e localizada, mas acontecerá e veremos seus
resultados.
Edwin nos coloca uma pergunta ou dúvida que precisa
ser esclarecida. O Programa apoiará 20 projetos, pelo
menos na que gostaríamos de chamar de primeira fase
(com a esperança de que outras fases sucederão à
conclusão da primeira). Estamos trabalhando na
elaboração de edital, aberto e transparente, que
permitirá a todo e qualquer interessado, capacitado,
submeter proposta. Serão então indicados para seleção
20 projetos por pelo menos 3 membros do Conselho
Consultivo do Programa, excluindo, obviamente, membros
que estejam envolvidos, direta ou indiretamente, nas
propostas. O Edital, o Programa e todos os documentos
necessários serão disponibilizados em site específico
do Museu do Índio-RJ, em fase de construção. Todos
saberão, no momento oportuno, do início da fase de
submissão das propostas. A lista incluída no Programa
e composta de 35 línguas , que consideramos boas
candidatas para a documentação, hoje, é resultado de
levantamento  absolutamente preliminar e com todos os
problemas da falta de informações confiáveis e
precisas para muitas línguas consideradas ´ameaçadas´.
Tal lista não constitui um conjunto fechado e
definitivo e nos serviu apenas para um primeiro
delineamento do universo objeto do Programa.

Um grande abraço
Bruna Franchetto

> 
> 
>   Renato Athias <renato.athias at gmail.com> escreveu: 
>  Para: etnolinguistica at yahoogrupos.com.br
> De: "Renato Athias" <renato.athias at gmail.com>
> Data: Fri, 28 Sep 2007 09:37:58 -0300
> Assunto: [etnolinguistica] Museu do Índio inicia
> programa de documentação das línguas indígenas
> 
>         Prezados Colegas,
> 
> Achei super legal essa iniciativa do Museu, Parabéns
> Bruna!. Legal. 
> Nesses últimos anos, como conhecedor da língua Hup,
> como alguns de vocês sabem, nós organizamos várias
> atividades entre os Hupdah: oficinas de grafia,
> calendários, preparação de material didáctico,
> cartilhas, livros de contos, e mais recentemente
> organizei um dicionário juntamente com o Henri
> Ramirez da língua hup. E ainda, estou assessorando o
> Curso de Magistério Indígena Paak Sak Teg, um grande
> espaço de discussão entre eles, o que me deixa muito
> alegre com todas as possibilidades que se
> apresentam. Ali agrupamos 42 jovens falantes da
> línguas Daw, Yuhup e Hup... Pois é, tudo isso é
> super legal. Os Hupdah, que conheço, gostaram e se
> sentiram muito orgulhosos disso tudo. Esse material
> é divulgado. Porém, o que me chama a atenção é que
> grande parte de nossos esforços vai parar em
> atividades de missionarização e catequese. Como
> vocês sabem, na área que há anos eu venho
> trabalhando, nesses últimos anos entrou um grupo de
> missionários evangélicos, inicialmente através de
> uma
>  proposta de um projeto de piscicultura (com o apoio
> da FUNAI), e se instalaram nessa mesma área que
> trabalhamos e estão com propostas bem claras nessa
> linha do evangelismo e criando uma dependência dos
> índios com relação as suas presenças nessa área. E
> isso inclusive contra o antigo (ainda em vigor)
> Estatuto do Índio quanto 'a catequese. Pois bem,
> estes são os mesmos que participam em congresso de
> linguística e são os mesmos quem fazem propostas de
> preservação da línguas indígenas. 
> Sei que muitos de vocês conhecem exatamente o que
> estou falando. Conversando com alguns índios, eles
> dizem não estar contentes com essa situação. E agora
> eles sentem medo de falar abertamente, têm medo de
> represálias. As crianças, homens e mulheres, antes
> alegres agora sentem medo. Tomam banho, no rio,
> vestidos e passam o sabão na roupa, coisas que não
> aconteciam antes. Tenho visto  mudanças nos
> comportamentos dos índios. Estou colocando isso,
> pois eu não tenho clareza como agir. E também por
> que acredito que essas pessoas deveriam ter a
> liberdade de escolher seus próprios caminhos.
> Infelizmente não é assim que está acontecendo. E eu
> acreditava que eles estariam, de certa forma,
> protegidos dessas atividades nefastas de um
> proselitismo barato. Os missionários, no início do
> século passado, conseguiram queimar e destruir a
> maloca onde viviam. Agora a maloca que existe dentro
> de cada um deles, onde a cultura está sendo vivida, 
> e construída, ao  longos de muitos e muitos anos
>  lugar da antiga maloca, está em perigo, fortemente
> ameaçada por essas ações. 
> 
> Mais informação sobre essa situação abram o link
> abaixo:
> 
>
http://www.ronaldo.lidorio.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=30&Itemid=28
> 
> 
> Outras informações também posso fornecer a quem me
> solicitar.
> 
> Atenciosamente
> 
> Renato Athias
> http://renatoathias.blogspot.com
> 
> 
> 
> 
> 
> Em 27/09/07, E&M Reesink <reesink at ufba.br> escreveu:
>               Cara Bruna e Colegas,
> 
> Muito interessante de fato para reverter a 
> falta de atenção para com línguas ameaçadas. Só 
> não achei na notícia nada sobre como será 
> definido o quadro destas línguas a serem 
> escolhidas. Gostaria de pedir que mande 
> informações depois sobre este processo e o andamento
> dos trabalhos.
> 
> grato desde já e desejando muito trabalho para
> você....
> 
> Edwin Reesink
> 
> At 13:17 26/09/2007, you wrote:
> >Encaminho esta excitante notícia!
> >Bruna Franchetto
> >
> >
> >---------------------------------
> >
> >NO MUSEU
> >Ano II ­ No. 20
> >Informativo do Museu do Índio
>
>http://www.museudoindio.gov.br/template_01/default.asp?ID_S=29&ID_M=432
> 
> >
> >Museu do Índio inicia programa de documentação das
> línguas indígenas
> >
> >O Programa de Documentação de Línguas e Culturas 
> >Indígenas Brasileiras, um dos destaques da 
> >Agenda Social do Governo Lula, pretende, sob a 
> >coordenação do Museu do Índio/FUNAI, documentar 
> >e fortalecer 20 línguas indígenas.
> >
> >Os trabalhos serão desenvolvidos, sob a 
> >coordenação da professora Bruna Franchetto, em 
> >conjunto com diversas instituições acadêmicas e 
> >científicas, entre elas: Museu Nacional/UFRJ, 
> >Museu Paraense Emílio Goeldi/MCT e o Instituto 
> >Max Planck para Psicolingüística, sediado em
> Nijmegen, Holanda.
> >
> >Atualmente, restam cerca de 180 línguas nativas 
> >no Brasil, das mais de 1200 existentes no país 
> >na época do descobrimento. Em abril deste ano, 
> >um novo passo para a preservação do patrimônio 
> >cultural lingüístico dos povos indígenas foi 
> >dado com a assinatura de um acordo entre a FUNAI 
> >e o Instituto Max Planck para Psicolingüística
> ­ 
> >MPI, que, entre outras iniciativas, resultou na 
> >criação no Museu do Índio de um Centro de
> Documentação Lingüística.
> >
> >O Programa de Documentação de Línguas e Culturas 
> >Indígenas Brasileiras inclui a documentação de 
> >35 línguas, das quais deverão ser inicialmente 
> >escolhidas 20 para a execução de sua primeira 
> >fase, com base em critérios tais como: o grau de 
> >ameaça a sua sobrevivência; condições de 
> >realização de um bom trabalho por equipes 
> >compostas por lingüistas competentes e das quais 
> >deverão participar indígenas em formação como 
> >pesquisadores; atitude positiva das comunidades 
> >quanto a iniciativas de preservação ou resgate de
> suas línguas nativas.
> >
> >Os 20 projetos incluídos no programa 
> >apresentarão, no final de três anos, um 
> >levantamento ou diagnóstico sócio-lingüístico; 
> >um acervo digital com 'textos' a partir de 
> >gravações áudio e vídeo de aspectos 
> >culturalmente relevantes, com anotação que 
> >contenha, no mínimo, uma transcrição e uma 
> >tradução dos enunciados; um dicionário; uma 
> >gramática básica; subsídios didáticos, materiais 
> >de divulgação (vídeos, CDs, DVDs), além de
> publicações de natureza científica.
> >
> >Fonte: ACS/Museu do Índio
> >24/09/2007
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