Comentários acerca da matéria: Zoés no meio do nada publicada na GOL
Augusto M Fagundes Oliveira
augustofagundeso at YAHOO.COM.BR
Sat Dec 13 10:16:12 UTC 2008
Comentários acerca da matéria: `Zoés no meio do nada"
Gostaria de parabenizar e dialogar sobre a matéria publicada na
Revista de bordo da GOL que tem a matéria "Zoés no meio do nada" de
autoria do repórter Arthur Veríssimo, pois traz alguns aspectos que
revelam um lado desconhecido do Brasil para grande parte dos
brasileiros, porém traz também alguns elementos que, na condição de
cidadão e de antropólogo, creio ser necessário posicionar-me.
A matéria informa que a FUNAI acredita que haja 210 povos isolados
indígenas no Brasil, este número equivale ao que seria o total de
povos indígenas n Brasil hoje, em página eletrônica da FUNAI
consta: "São 215 sociedades indígenas, mais cerca de 55 grupos de
índios isolados, sobre os quais ainda não há informações objetivas.
180 línguas, pelo menos". Alguns especialistas diferem deste número,
porém saliento que neste caso diferir não é ser necessariamente
antagônico, os números em geral variam de 50 a 70.
Quanto ao isolamento e a sua alimentação, cabe salientar que este
povo foi vítima de contato com missionários evangélicos, na maioria,
estadunidenses, e que sofreram interferências, inclusive no seu modo
alimentar, e o que eles têm hoje como sua dieta, é parte também de um
trabalho de revalorização das suas formas tradicionais através de
ações que envolvem FUNAI e parceiros.
O comentário sobre a inexistência de sal ou açúcar revela algo
delicado para quem lida com etnohistória indígena, bastaria informar
que tais pós brancos implicaram genocídio de diversos grupos ainda no
início do século XX por alterarem o metabolismo e a fisiologia de
tais sujeitos que historicamente, pelo viés dominante, deveriam ser
apresados, amansados e integrados.
Tal viés veio desconhecer formas êmicas, idiossincrásicas, de
hierarquia, inclusive no que tange ao direito de aupoiesis destes
povos.
"Tembetá de poturu", sim, adorno labial "tembé" é lábio, a
partícula "tá" deriva de ita (pedra) que aí se tem pelo adorno, neste
caso de madeira de "poturu".
Quanto às trocas matrimoniais, chamaria a atenção que se trata de uma
sociedade na qual existe poliandria, e não consigo dimensionar onde
estaria a troca, ou se seria uma concepção de casamento e de lar que
difere da nossa sociedade nacional.
Outro detalhe tem a ver com o nome no plural, há regra específica da
língua portuguesa, datada de 1953, tendo como respaldo a Associação
Brasileira de Antropologia ABA, que informa que estes etnonímios
não levam plural em determinados casos.
Finalizando, preocupa-me o fato de que povos indígenas ainda sejam
apontados como exóticos e pitorescos, ainda que revista tenha um
cunho turístico. E turismo, suponho e creio, é uma área sumamente
séria tanto de serviço, quanto de conhecimento.
Fraternalmente,
Augusto
Paz e bem!!!
Prof. Augusto M Fagundes Oliveira
Professor Assistente
Núcleo de Estudos Sociedade, Educação e Políticas Públicas - NESEP
Departamento de Filosofia e Ciências Humanas
Universidade Estadual de Santa Cruz - UESC
Rodovia Ilhéus-Itabuna, km 16 Salobrinho
Ilhéus, Bahia, Brasil CEP 45650-000
tel: 73 3680 5131
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