"ACERVOS LING ÜÍSTICO S: Para compreender as línguas indígenas"
Eduardo Rivail Ribeiro
kariri at GMAIL.COM
Thu May 22 01:53:12 UTC 2008
Prezados,
Obrigado, Renato, pela dica sobre o artigo, e Victor, pelo relato sobre a
questão do acesso a tais coleções. Quanto ao artigo, no entanto, confesso
que fiquei sem entender o seu propósito (a menos que faça parte de um estudo
mais detalhado, em que informações mais substanciais, que confirmem as
várias "suposições" lá feitas, sejam apresentadas). Detenho-me aqui a uma
parte do artigo. Ao afirmar que "[É] importante lembrar que a língua
representada neste arquivo [o constituído por Plinio Ayrosa] corresponde ao
tupi gramatizado, ou seja, aquele que resultou da sistematização das línguas
da família tupi", a autora ecoa um velho mito (o do caráter "artifical" do
Tupi da Costa), já devidamente combatido por especialistas como Aryon
Rodrigues e Lemos Barbosa. Além disso, não se tratava de "línguas" da
família Tupi, mas de uma língua, com diferenças dialetais mínimas, já
detectadas (e descritas) pelos jesuítas coloniais. É incrível o quanto esta
idéia (a do Tupi "biônico") persiste, mesmo diante da falta de evidências
lingüísticas. Como um antídoto, seria recomendável -- além de uma comparação
da língua brasílica de Anchieta e Figueira com línguas Tupi-Guarani
modernas -- a leitura da resenha que Aryon Rodrigues (1966) fez do livro
Introdução às Línguas Indígenas, de Mattoso Câmara Jr., e a introdução de
Lemos Barbosa a seu Curso de Tupi Antigo (1956), em que o autor passa um
pito bem merecido em Antenor Nascentes.
Característica da grande maioria dos estudos historiográficos brasileiros
que tenho visto é a crença de que o uso de uma terminologia clássica,
greco-latina, implica em alterações na natureza da língua sendo descrita
(como se a gueroba fosse menos ou mais amarga caso eu a chame de guariroba).
Esta tendência, aliás, não se restringe a análises do Tupinambá ou Tupi da
Costa. Outra vítima habitual é o Kiriri (Kipeá) descrito por Luiz Mamiani.
Obcecados com o uso de termos clássicos como "acusativo" e "nominativo", os
historiógrafos parecem não perceber que a descrição da ergatividade, feita
por Mamiani, é não só acurada, mas muito à frente de sua época (como
menciono em outra ocasião: http://linguistlist.org/issues/15/15-953.html#2).
E isto sem falar em outros fenômenos gramaticais do Kipeá descritos por
Mamiani, como o uso de classificadores, etc.
Bem, só isso.
Abraços,
Eduardo
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