Sobre cont ínuos dialetais

eduardo_rivail kariri at GMAIL.COM
Mon Jul 6 18:55:09 UTC 2009


Querida Tania,

Muito obrigado por sua resposta. Neste sentido que você menciona, um termo comum no Brasil é, se não me engano, "complexo dialetal", usado quando se fala, por exemplo, da(s) língua(s) falada(s) pelos Kaiapó ou Timbíra.

Por "contínuo dialetal" eu me refiro à definição "clássica" em geografia lingüística -- aquela encontrada, por exemplo, na Wikipédia: "Continuum dialectal (português europeu) ou contínuo dialetal (português brasileiro) é o termo utilizado na Linguística para denominar o conjunto de dialectos (dialetos, no Brasil) falados ao longo dum área geográfica extensa, que apresentam apenas diferenças ligeiras nas zonas geograficamente próximas, e que perdem gradualmente a inteligibilidade mútua à medida as distâncias se tornam maiores, com esta inteligibilidade chegando até mesmo a desaparecer."

Um exemplo comumente mencionado é o do contínuo dialetal entre o alemão e o holandês: "A person traveling from the southernmost areas of German speech (as far south as Northen Italy), via Austria and Germany, to the Netherlands would find no boundary of mutual non-intelligibility separating one local dialect from the other.  The whole territory is a single dialect continuum, although dialects that are fairly removed from each other may be mutually quite unintelligible." (Hock & Joseph 1996:326)

No caso das línguas sul-americanas, talvez o conceito de "contínuo dialetal" seja útil para descrever, em alguns casos específicos, o processo de diferenciação entre línguas de uma determinada família, mesmo que sincronicamente estas já sejam línguas diferentes. Como eu menciono na minha mensagem original, em alguns casos, talvez a relutância em se lançar mão deste conceito para descrever mudança lingüística se deva a uma visão pré-concebida sobre como a separação de povos teria se dado -- sempre de maneira brusca e irreversível, devido a hostilidades entre facções, e nunca de uma maneira gradual.

No caso das línguas que venho considerando, talvez o conceito de contínuo dialetal seja uma explicação plausível para situações como, em Jê do Norte, as relações entre o Kaiapó, o Apinajé e o Timbíra. Andei matutando sobre isto no meu blogue:

http://tr.im/timbira

Bem, trocamos mais idéias quando você retornar do campo, então.

Sucesso, e abraços,

Eduardo

--- Em etnolinguistica at yahoogrupos.com.br, Tania Granadillo <tgranadillo at ...> escreveu
>
> Eduardo
> 
> Yo uso el concepto de continuo dialectal, asi como tambien lo hace
> Aikhenvald, para referirnos a Baniwa-Kurripako que tiene por lo menos 4
> variantes si no mas. No sé si es esto a lo que estas haciendo referencia.
> Ahora bien, la intención es decir que es una sola lengua con variantes y no
> varias lenguas. Si quieres mas información podemos hablar luego pues ahora
> estoy en el campo con poco acceso a internet hasta principios de agosto.
> Saludos
> Tania
> 
> 2009/6/25 eduardo_rivail <kariri at ...>
> 
> >
> >
> > Prezados,
> >
> > Uma curiosidade: alguém saberia me informar de algum exemplo em que o
> > conceito de "contínuo dialetal" é usado, de maneira bem sucedida, para
> > descrever a diversificação de línguas de famílias sul-americanas?
> >
> > A impressão que tenho é que, no caso das terras baixas da América do Sul,
> > este conceito é pouco ou nunca usado, mesmo em casos em que continuidade
> > dialetal seria uma explicação plausível.
> >
> > Imagino se isto não seria conseqüência de uma visão pré-concebida, herdada
> > dos primeiros séculos da colonização, sobre como a separação de povos teria
> > se dado -- sempre de maneira brusca e irreversível, devido a hostilidades
> > entre facções, e nunca de uma maneira gradual.
> >
> > Abraços,
> >
> > Eduardo
> >
> >  
> >
> 
> 
> 
> -- 
> Tania Granadillo
> Assistant Professor
> Anthropology and Linguistics
> Co-Director Interfaculty Linguistics program
> University of Western Ontario
>


-------------- next part --------------
An HTML attachment was scrubbed...
URL: <http://listserv.linguistlist.org/pipermail/etnolinguistica/attachments/20090706/2f785e62/attachment.htm>


More information about the Etnolinguistica mailing list