[etnol inguistica ] Re: O Tu p í nosso d e cada dia

Victor Petrucci vicpetru at HOTMAIL.COM
Fri May 15 09:24:18 UTC 2009


Oi Eduardo

Suas propostas são boas. Uma que me agrada em especial é fazermos esse mapeamento dos falares regionais brasileiros e as variantes do termo como o tiu que vc cita. A minha vivência certamente é bem distinta da sua tanto em época como em local. Quando eu citar alguma coisa estará baseado geograficamente e cronologicamente no português urbano de São Paulo dos anos 50 em diante (com influência da imigração italiana e em menor volume portuguesa) e também no linguajar da região da divisa São Paulo-Minas onde eu passava todas as minhas férias (São João da Boa Vista (SP) próxima de Poços de Caldas (MG)). Dois universos distintos um urbano, paulistano e agitado e um caipira, interiorano e pacato. Que saudade!

Um exemplo: em São Paulo não se falava em picumã S. m. teia de aranha enegrecida de fuligem. Do tupi apeku'mã segundo o dicionário do Aurélio. Claro não havia mais fogões a lenha em São Paulo. Por outro lado no "interior" ainda existiam alguns e a picumã estava, não só presente, como era "remédio" para alguns casos que eu não me lembro bem. "Esfrega picumã que sara". Aurélio cita a variante pucumã e um derivado taticumã do tupi tatiku'mã (fuligem).

Um outro fator que eu não sei avaliar muito bem é que em São Paulo se falou a LGP durante muito tempo e isso deve ter aumentado o vocabulário tupi do paulistano. Quase com certeza na sua Goiás a fonte inicial vem dos ditos bandeirantes colonizadores que certamente falavam LGP no século XVII. Estou certo?

Quanto teria vindo pelos bancos escolares e por Monteiro Lobato com o Sítio do Picapau Amarelo "de verdade", não o da Globo. Nunca tinha pensado em separar o vocabulário usual da minha "turma de rua" daquele que eu aprendia na escola. Vou tentar recuperar isso.  No meu bairro (Pinheiros), na rua e na escola dos anos 50, tinhamos uma verdadeira Babel com japoneses, judeus, alemães, italianos, espanhois, portugueses, árabes. Saci Pererê era o personagem de uma revista em quadrinhos, creio eu, do Ziraldo e claro dos livros de Monteiro Lobato que eu devorava um após o outro.

Vamos estudar o termo que vc gostou: cambota e sua variante cambalhota. Seria de origem tupi? O Aurélio diz que não. Cita o primeiro proveniente do celta kambos (curvo) e o segundo proveniente do verbo cambalear. Na época em que escrevi o texto jurava que era tupi.

Isso tudo "vai dar muito pano pra manga"...

Um abraço 

Victor A. Petrucci
Campinas - Brasil
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> To: etnolinguistica at yahoogrupos.com.br
> From: kariri at gmail.com
> Date: Fri, 15 May 2009 04:56:17 +0000
> Subject: [etnolinguistica] Re: O Tupí nosso de cada dia
> 
> Caro Renato,
> 
> Muito obrigado pelo apoio e o incentivo. Obrigado, também, ao Nonato Costa, ao Victor Petrucci e ao Beni Borja, pela acolhida. Esperamos contar com a participaçăo de todos. Sim, "quarar" foi o primeiro lexema registrado (simbolicamente, até; afinal, o objetivo é, de certa forma, pôr algumas velhas idéias para quarar). Dę uma olhada:
> 
> http://www.etnolinguistica.org/tupi:quarar
> 
> Quanto ŕ provável origem do cumprimento "oi", tendo a concordar com a explicaçăo do colega Geraldo Faria. Interjeiçőes tendem a coincidir em línguas as mais diversas e, por outro lado, podem variar bastante dentro de uma mesma língua. A exemplo das chamadas "palavras de berçário" (papa, mama, caca), săo pouco confiáveis para o estabelecimento de relaçőes genéticas ou de contato lingüístico. A propósito: alguém sabe se algo parecido com "oi!" teria ocorrido em Tupinambá?
> 
> Agora, em resposta a algumas das questőes levantadas pelo Victor, seria mesmo interessante incluir, na discussăo dos verbetes, informaçőes sobre o seu tratamento por outros autores (tanto a definiçăo, quanto sugestőes etimológicas). É o que faço, a título de ilustraçăo, no verbete 'quarar' (citando Amadeu Amaral). No caso de 'jirau', pode ser que afinal o Aurélio é que estivesse correto (no possível original Tupí que menciono, com base em Lemos Barbosa, fica sem explicaçăo a semivogal final). Colegas com acesso a fontes mais completas -- sem falar nos vários especialistas em Tupinambá e na família Tupí-Guaraní, membros desta lista -- podem ajudar a esclarecer este e outros pontos duvidosos (e esta é uma das vantagens de um trabalho cooperativo como este).
> 
> Há, claro, centenas de termos de origem Tupí cujo uso é restrito (inclusive nomes científicos de plantas e animais). Embora estes lexemas sejam também importantes, eu sugiro, no entanto, que cada entrada a ser introduzida se baseie no repertório lingüístico do autor do lexema, como falante nativo de uma dada variedade do portuguęs brasileiro. É isso que tenho em mente ao falar do Tupí nosso de cada dia. Por exemplo, embora a forma de dicionário seja algo como "teiú", a forma que adquiri desde menino é "tiú" (um lagarto preto, comestível, que tem uma predileçăo por ovos, dando prejuízo ao dono do galinheiro). Posso afirmar, com um certo grau de certeza, que essa é a forma usada em Goiás. Colegas falantes de outros dialetos podem acrescentar informaçőes sobre sua própria pronúncia. Assim, pouco a pouco, vamos tendo uma visăo mais precisa da distribuiçăo e variaçăo de um determinado lexema.
> 
> Achei bacana a idéia do texto do Victor, como ferramenta didática. Mas, para os nossos propósitos atuais, é bom deixar inicialmente de lado palavras cuja difusăo se deu muito mais por meio literário e escolar. Por exemplo, Tupă, saci e curupira săo, para mim, termos puramente escolares (ou seja, năo fazem parte do meu universo etnolingüístico de caipira goiano; só aprendi sobre eles nos velhos livros de Educaçăo Moral e Cívica e no Sítio do Pica-Pau Amarelo, na TV). Por outro lado, perebas, catapora e taturanas (infelizmente) e paçoca, beiju, arapuca e pirăo (felizmente), sim, fazem parte do meu universo lingüístico extra-escolar. Certas palavras, inclusive, fazem parte de provérbios ou "dizeres", o que ajuda a ilustrar seu valor etnolingüístico. Por exemplo: "Por vocę, fulana, eu carrego água em jacá."
> 
> Aqui vai, a propósito, uma pequena lista de palavras (Tupi, será?) que me ocorreram (e cuja etimologia ainda năo pude encontrar nas fontes de que disponho no momento):
> 
> suă
> capiau
> catira
> potoca
> coró
> jia (ou gia?)
> curau
> 
> Se tais termos fazem parte do repertório lingüístico de qualquer um de vocęs (e se sua origem e, talvez, etimologia podem ser determinadas), por favor, sintam-se "cordialmene intimados" a incluí-los como verbetes.
> 
> Uai, entăo "cambota" também seria Tupí? Se for, que maravilha. Fazia tempo que năo ouvia esta palavra; valeu, Victor, pelo presente!
> 
> Abraços,
> 
> Eduardo
> 
> --- Em etnolinguistica at yahoogrupos.com.br, Renato Athias <renato.athias at ...> escreveu
> >
> > Eduardo,
> > GENIAL! PARABENS pela iniciativa.
> > Năo vi a palavra QUARAR no vocabulario.... quem vai colocar?
> > A palavra  "oi" também na seria de origem tupi?
> > 
> > Renato
> > 
> > 2009/5/14 eduardo_rivail <kariri at ...>
> > 
> > >
> > >
> > > Prezados,
> > >
> > > Recentemente, eu e o colega Emerson José Silveira da Costa (que mantém,
> > > entre outras iniciativas, o site http://tupi.wikispaces.com/) demos início
> > > a um projeto de compilaçăo do vocabulário de origem Tupí que ocorre no nosso
> > > portuguęs do dia-a-dia. A participaçăo é aberta a todos os interessados. O
> > > endereço é o seguinte:
> > >
> > > http://www.etnolinguistica.org/tupi
> > >
> > > Usuários do Twitter podem se manter informados acerca de novos verbetes
> > > acompanhando-nos no seguinte endereço:
> > >
> > > http://twitter.com/abanheenga
> > >
> > > Cada verbete deverá incluir informaçőes etimológicas, indicaçăo de fontes
> > > bibliográficas e exemplos concretos de uso (năo apenas literários ou da
> > > mídia, mas também exemplos pessoais fornecidos pelos usuários e membros do
> > > projeto), com a devida indicaçăo de sua distribuiçăo geográfica. A exemplo
> > > dos demais recursos disponíveis em Etnolinguistica.Org, cada verbete pode
> > > ser comentado por qualquer um que se cadastre no site.
> > >
> > > Um dos objetivos principais é fornecer, ao público geral, uma fonte
> > > confiável (e interativa) sobre a presença da herança cultural indígena no
> > > cotidano do brasileiro. Além disso, o projeto pode vir a ter resultados
> > > científicos igualmente relevantes, contribuindo para esclarecer a
> > > distribuiçăo geográfica dos vocábulos de origem Tupí, detectar diferenças
> > > regionais em pronúncia e escopo semântico, etc.
> > >
> > > Esperamos poder contar com a participaçăo de todos os interessados!
> > >
> > > Atenciosamente,
> > >
> > > Eduardo
> > >
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