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Pedro
costapppr at GMAIL.COM
Thu Mar 24 11:28:32 UTC 2011
Olá sou, Paulo Pedro, formado em psicologia com especialização em acupuntura
e tenho os sistemas etnomédicos como objeto de pesquisa, vou me deter nos
termos que estudei.
Penso que a relação é inversa, a estrutura da língua pode influenciar o
pensamento mítico - religioso.
O "padrão de pensamento mágico" ou pensamento concreto algo equivalente aos
nossos sistemas teóricos dá sentidos específicos à expressões idiomáticas,
palavras ou ideogramas.
O grande livro sobre o tema é "Pensamento selvagem" de Claude Levi-Strauss
Um bom exemplo de sentidos específicos que as palavras vão adquirindo com o
acúmulo da experiência (empírica) é o o sistema etno-médico da medicina
tradicional chinesa, naturalmente há uma diferenciação deste e de outros
sistemas associados às grandes civilizações e formações imperiais e o de
culturas mais "primitivas" quanto ao nível de formalização, existência de
documentos escritos, relação mestre-discípulo, profissionalização etc. mas
não podemos dizer que são equivalentes ao pensamento científico e/ou à
medicina cosmopolita ocidental.
Uma generalização possível (via Levi-Strauss) é o raciocínio analógico e
predomínio do uso de metáforas.
Observe-se um dos mitos de criação da terra e do homem chinês:
o princípio havia o não-ser, a insondável nuvem sem forma. O céu e a terra
estavam em um mesmo e único não - lugar. Assim como tudo, não tinham nome,
pode-se dizer que o que existia era o caos, o ovo cósmico, Tai Chi, a grande
energia, o Tao.
O Tao em seu movimento gerou o Um. O Um gerou o Dois. O Dois gera o três e
logo depois toda a escuridão. O ser que existia, então, toma a forma de um
homem chamado Pan Gu. O trabalho desse homem é separar o leve, rosa-claro e
brilhante *(Yang)*, do denso, escuro e pesado *(Yin)*. Assim, Pan Gu começou
a separar o céu da terra.
Para fazer seu trabalho, Pan Gu crescia empurrando o céu com a sua cabeça,
pisando no chão com os seus pés. Esse esforço foi a sua vida.
Exaurido, deitou-se sobre si mesmo formando a terra; seu olho esquerdo
brilhou e nasceu o Sol e, do olho direito nasceu a Lua. Seu fôlego
expandiu-se em forma de vento e sua voz ressoou em trovão.
Dos seus pés e cabeça, formou-se o Himalaia e todas as outras cadeias de
montanhas; de seus ossos e dentes espalhados pela água, ao secar formaram-se
as minas e os metais. A medula branca, líquidos cristalinos e outras
gorduras, junto com o sangue, ao separar-se originaram os rios e mares.
A sua pele, tendões, os seus pêlos e unhas transformaram-se na madeira, e o
manto da vegetação foi cobrindo toda a terra, em sua primeira primavera. Os
músculos pulsantes e artérias deram forma ao fogo dos vulcões e ao calor da
terra envolvida em sua neblina com chuvas.
No seu corpo, porém, havia pequenos seres que dele viviam, exatamente desses
parasitas de energia formou-se o pequeno homem.
Para ver outra versão: http://pt.wikipedia.org/wiki/Pan_gu
Nesse mito palavras como Yin e Yang formaram-se pelo princípio da
arbitrariedade do signo (Saussure) com o acúmulo de experiência e
desenvolvimento do conhecimento empírico vem ganhando sentidos bem
específicos na pratica da acupuntura, fitoterapia, alquimia chinesa, arte
marcial ou feng shui.
O mesmo pode ser dito sobre esse esboço da classificação das partes do corpo
aos componentes da terra ou do cosmo posteriormente conhecido como 5
elementos (ar, água, fogo, terra e madeira)
Naturalmente que a análise dos ideogramas torna essa matriz de significados
mais clara, o que é objeto de futura tese sobre essa categoria de "mitema"
faço mais algumas anotações sobre esse "risco" de traduções em:
http://etnomedicina.blogspot.com/2010/08/qi-meridiane-einfuhrung-von-dr-wolfgang.html
Em 23 de março de 2011 22:15, neemarau <neemarau at yahoo.com.br> escreveu:
>
>
> Olá pessoal,
>
> Estou querendo saber se alguém poderia me ajudar com uma informação sobre o
> padrão de pensamento mágico e a sua influência sobre a língua. Ou seja, até
> que ponto o padrão de pensamento mágico, em culturas indígenas (por
> exemplo), pode determinar a estrutura da língua e suas categorias.
> Alguém sabe me informar onde consigo material sobre o assunto e sá algum
> artigo sobre o tema.
> Desde já agradeço a ajuda de vocês.
> Abraço,
>
> Neemias
>
>
>
--
Paulo Pedro P. R. Costa
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