A new Brazilian indigenous master in linguistics/Um novo mestre ind ígena brasileiro em linguística

Eliane Camargo tekuremai at YAHOO.FR
Sat May 28 15:29:27 UTC 2011


 


















 

Foi um grande prazer ler a mensagem, de 14 de
maio 2011, de Aryon Dall’Igna Rodrigues (UnB) sobre « A new Brazilian
indigenous master in linguistics/Um novo mestre indígena brasileiro em linguística »
que nos informa sobre a formação do caxinauá Joaquim Paulo de Lima, da aldeia
Mucuripe, situada no alto rio Tarauacá. Toda pessoa, membro de minorias ou não, que, visto as
dificuldades socioeducacionais e socioeconomicas, encontram dificuldades de
acesso à formaçao acadêmica, merece o respeito e o reconhecimento de todos.
Joaquim Paulo de Lima faz parte dessas pessoas que lutam pelo respeito e
desenvolvimento educacional de sua sociedade, a caxinauá. 

 

Porém, o trecho abaixo da entrevista
concedida por Joaquim ao Papo de Indio, da Página 20, datada de 10 de abril de
2011 chamou a nossa atenção :

“Confrontando registros e memórias sobre a língua e a
cultura Huni Kuin: de Capistrano de Abreu aos dias atuais”. É sobre um trabalho
feito pelo Capistrano de Abreu, em 1914, com dois jovens que foram levados, não
sei como, até o Rio de Janeiro e lá ele manteve esses jovens como informantes.
Nisso pegou todas as histórias que os jovens sabiam contar e fez uma bela obra.
Algumas dessas histórias não se contam mais. É claro que ele escreveu
foneticamente e como eu estava fazendo linguística pude entender os símbolos
que ele usou para representar os sons e pude adaptar à escrita de hoje. Agora
essas histórias todo mundo vai poder ler." 

Em maio de 2006, a convite de Joaquim, o
programa de documentação DoBeS organizou e realizou durante 15 dias uma "oficina de língua e
cultura caxinauá », em
Mucuripe, a aldeia do Joaquim. O livro do historiador cearense João Capistrano de Abreu, “Rã-txa
huni kuin, a língua caxinauás do rio Muru” (1914, 1941), com dados etnográficos
e linguísticos de valor sem par, foi usado como material de trabalho. Esta obra
prima bilingue, publicada no início do século XX era desconhecida dos
participantes. Para que pudessem ter acesso à leitura dos 5926 enunciados em língua
caxinauá, transcritos foneticamente, esquematizamos em um quadro as chaves de
leitura. Dentro do âmbito do programa DoBeS (2006-2010), a retranscrição da fonética
usada e a retradução da obra foram metas de trabalho a serem realizadas em
colaboração direta com membros do grupo. Isso ocorreu sobretudo com a participação
dos caxinauás do Peru. Desde 2010, uma parte deste trabalho, com esta chave de leitura,
pode ser acessada livremente no acervo caxinauá, da DoBeS (http://corpus1.mpi.nl/ds/imdi_browser).
No mesmo sítio internet, encontra-se o resultado da continuidade das atividades
linguísticas em forma de oficinas realizadas no Peru: um manual de fonologia e
de estrutura silábica inteiramente em caxinauá (monolíngue): Hanrx.

 

Foi nesta primeira oficina de
2006 que uma metalinguagem linguística em caxinauá foi desenvolvida junto com
os 27 participantes (professores bilingues e alguns agentes florestais da area
indígena da Praia do Carapanã, com dois convidados do rio Humaitá), entre eles
o Joaquim, para que pudessem discutir em língua materna conceitos da
terminologia técnica, como o que é fonética, fonema, articulação, morfologia, categoria
lexical etc. Durante toda a oficina, usou-se uma transcrição fonética para que
os participantes se habituassem à leitura do livro do Capistrano. Esta oficina,
como as demais, contou com uma participação dinâmica do grupo que pela primeira
vez discutia o funcionamento da sua língua na língua materna.  

  

Todos estes dados estão incluídos
no relatório, de 61 páginas, efetuado em 2006 (cf. relatório Itxaxun nukun daya inun beya hantxa kuin
tapian; 2006, arquivo DoBeS). Juntamente com certificados bilingues contendo
o logotipo do DoBeS, este relatório detalhado foi enviado ao Joaquim, então presidente
da OPIAC, para que, como combinado, distribuísse a cada um dos vinte e sete
participantes. 

 

Informamos ainda que dentro do
programa DoBeS, a integralidade dos enunciados fonéticos do livro foi retranscrita,
seguindo o sistema fonológico da língua, usando as letras do alfabeto caxinauá.
O português palavra-por-palavra foi retraduzido em uma tradução livre. A
realização deste trabalho contou com a colaboração de muitos caxinauás,
sobretudo do Peru, de todos os membros do programa DoBeS "caxinauá",
e de dois estudantes em Antropologia social (FFLCH-USP). Uma parte deste imenso
trabalho já está disponível nos arquivos caxinauá da DoBeS, com acesso livre
desde 2010. Uma releitura está em andamento e o projeto de republicação entra
dentro dos compromissos que a equipe DoBeS caxinauá estipulou junto com
diferentes membros da sociedade caxinauá. Joaquim sempre esteve informado do andamento
de todos esses trabalhos assim como a SEE-AC com quem mantemos contato.

Com certeza, os caxinauás terão
em breve acesso a esta obra prima bilingue, retranscrita em caxinauá e
retraduzida em português como discutida e prevista com o próprio Joaquim  em nossos contatos desde o início de 2006.


 

 Eliane Camargo e Sabine Reiter


 

 

 

 



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