[etnolinguistica] Imprensa: 'Luzia' mexicana agita ocupa=?ISO-8859-1?Q?=E7=E3?=o da Am=?ISO-8859-1?Q?=E9?=rica

Wilmar R. D'Angelis dangelis at UNICAMP.BR
Tue Sep 14 20:48:07 UTC 2004


Um problema de todas as reportagens e divulgações que se tem feito dessa
questão e correlatas são afirmações como a da matéria abaixo transcrita,
quando diz coisas como:  "descobriram que eles não tinham nada das feições
mongolóides(asiáticas) dos índios americanos."
O problema está no verbo "descobrir". O correto é: hipotetizaram,
sugeriram nova interpretação, etc. Não há infalibilidade no método (o
provável, aliás, pode ser o contrário: a tendência é que haja).
Desconfio que Luiza "revista" tem mais servido para promoção do que para
ciência.

Wilmar


> Mais lenha na fogueira das controvérsias sobre as origens do homem
> americano. A matéria abaixo foi publicada na edição de hoje da Folha
> Online.  O link para a matéria é o seguinte:
>
> http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u12410.shtml
>
> -------------------------------------------
>
> 14/09/2004 - 05h05
> "Luzia" mexicana agita ocupação da América CLAUDIO ANGELO
> Editor de Ciência da Folha de S.Paulo
>
> Uma nova análise do fóssil humano mais antigo do México está ajudando a
> confirmar a hipótese de que os primeiros americanos eram mais parecidos
> com os aborígenes da Austrália do que com os índios atuais. E, ao mesmo
> tempo, causando um racha entre os cientistas sobre a rota que esses
> pioneiros usaram para migrar até a América: a pesquisadora que estudou o
> crânio mexicano afirma que eles vieram da Austrália.
>
> O fóssil em questão é um crânio conhecido como Mulher de Peñón,
> desenterrado no deserto da Baixa Califórnia. Com 12,7 mil anos, Peñón é
> estatisticamente contemporânea de outro fóssil feminino ilustre: Luzia, de
> cerca de 13 mil anos, desenterrada numa gruta em Lagoa Santa (MG). As
> datações fazem de ambas os esqueletos humanos mais antigos já descobertos
> nas Américas.
>
> Examinando o crânio de Luzia e de outros esqueletos antigos de Lagoa Santa
> e da Colômbia, o bioantropólogo mineiro Walter Neves, da USP, e seu colega
> argentino Héctor Pucciarelli descobriram que eles não tinham nada das
> feições mongolóides (asiáticas) dos índios americanos. Eles se pareciam
> muito mais com populações da África, com os aborígenes australianos e com
> os melanésios, o que sugeria que o povoamento do continente americano foi
> um processo muito mais complexo do que se imaginava.
>
> Se os esqueletos mais antigos eram tão diferentes --e eles aparentemente
> não deixaram traço na população indígena atual--, raciocinou a dupla, essa
> primeira leva de migrantes deveria ter sido substituída por uma segunda
> onda, de mongolóides, num evento que pode ter envolvido competição por
> recursos e até violência.
>
> Pistas escassas
>
> O modelo de Neves e Pucciarelli, no entanto, tem sido olhado com reservas
> pela comunidade científica. A principal crítica, feita por antropólogos
> americanos, diz respeito à falta de esqueletos antigos na América do
> Norte.
>
> Provável porta de entrada para os grupos humanos que emigraram da Ásia
> durante o Pleistoceno (período encerrado há cerca de 10 mil anos, também
> conhecido como Idade do Gelo), a parte norte do continente ainda não havia
> fornecido restos humanos de idade comparável à de Luzia.
>
> O quadro começou a mudar com a datação da mulher de Peñón, publicada no
> fim de 2002 pela arqueóloga mexicana Silvia González, da Universidade John
> Moores, no Reino Unido.
>
> González e sua equipe realizaram medições no fóssil que confirmam a
> hipótese de Neves e Pucciarelli. Ela apresentou seus resultados na última
> semana em dois congressos científicos, um no Reino Unido e outro na Cidade
> do México.
>
> O grupo de Liverpool e o da USP chegaram a escrever juntos um artigo
> científico --que deve ser publicado até o fim deste ano-- descrevendo o
> fóssil de Peñón e quatro outros crânios mexicanos do Pleistoceno, todos
> eles parecidos com Luzia.
>
> "Na questão da morfologia, pelo menos por escrito, ela concorda comigo",
> disse Neves à Folha.
>
> Rotas alteradas
>
> Mas os dois grupos partem companhia quando o assunto é a rota de migração
> dos paleoíndios (como são chamados os primeiros americanos) da Ásia para a
> América. Em uma de suas apresentações, González afirmou que havia forte
> evidência apontando para uma migração transpacífica, a partir da
> Austrália, via Polinésia.
>
> Essa hipótese já foi descartada por quase todos os estudiosos do
> povoamento da América, inclusive por Neves --que acredita que os
> paleoíndios vieram mesmo pelo estreito de Bering, entre Alasca e Sibéria,
> a mesma rota usada pelos ancestrais dos índios atuais.
>
> "[Ela] é um perigo ambulante, e seria melhor que deixasse de nos
> defender", afirmou o argentino Rolando González-José, antropólogo do
> Centro Nacional Patagônico que trabalha em colaboração com a equipe de
> Neves e analisou os crânios mexicanos.
>
> González também afirmou que havia semelhanças entre os paleoíndios do
> México e uma tribo da Baixa Califórnia, os pericus, extintos durante o
> período colonial. Ela prometeu evidências de DNA que confirmariam suas
> idéias, mas, segundo González-José, elas são inconclusivas. "O anúncio que
> ela está fazendo com pompa e circunstância não condiz com a evidência",
> disse.
>
> Furioso com a confusão, Neves resumiu: "Esse artigo foi a nossa última
> colaboração."
>
>
>
> ----------------------------------
> Eduardo Rivail Ribeiro
> Museu Antropológico, Universidade Federal de Goiás
> Department of Linguistics, University of Chicago
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>
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-- 
Prof.Dr. Wilmar da Rocha D´Angelis
Departamento de Lingüística
Instituto de Estudos da Linguagem - IEL
Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP





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