línguas e Bíblias

Renato Athias renato.athias at GMAIL.COM
Thu Jul 13 17:58:30 UTC 2006


*O autor  do artigo abaixo é o coordenador de atividades do projeto Amanajé
(PROPAS) onde dois casais conseguiram através de autorização da FUNAI
montar estrutura entre os Hupdah do Rio Tioquié para desenvolver um  projeto
de psicultura.  Já estão há dois anos  vivendo entre os Hupdah, sem porém
concluirem o projeto de psicultura.
Renato Athias
*

*
Cenário Linguístico dos Povos Indígenas do Brasil*

por

*Ronaldo Lidório*

 *

*

Vivemos em um país com 257 tribos indígenas perfazendo uma população
aproximada de 364.000 pessoas. Segundo o pesquisador Paulo Bottrel apenas 4
etnias (Katuena, Mawayana, Wai-Wai e Xereu) possuem a Bíblia completa em
seus idiomas, 34 dispõe do Novo Testamento e outras 59 contam com porções
bíblicas. Entretanto mais de 120 tribos necessitam urgentemente da tradução
das Escrituras. Apesar das 25 Agências Missionárias que bravamente atuam
entre os índios em nosso país ainda contamos com um vasto campo que
necessita do evangelho e 103 grupos permanecem sem presença missionária.

É certo que o desafio vai muito além das estatísticas e das palavras pois é
composto por faces, vidas, histórias e culturas milenares as quais tem
sofrido ao longo dos séculos a devassa dos conquistadores, a forte imposição
sócio-econômica, etnofagias e perdas culturais.

Em meio a todo este quadro há necessidade gritante de homens e mulheres que
se disponham a encarar a transmissão do evangelho valorizando o homem e sua
cultura dentro de uma esfera de compreensão lingüística e aplicabilidade
social o que envolve o ultrapassar de várias barreiras. Uma delas é o
estudo, registro, preservação, uso e valorização das línguas maternas.


O apelo das minorias

No contexto sul-americano nosso país possui a maior densidade lingüística e
diversidade genética e, paradoxalmente, uma das menores concentrações
demográficas por língua falada. As 185 línguas indígenas são distribuídas em
41 famílias, dois troncos e uma variedade desconhecida de línguas isoladas .
Em meio a esta gritante diversidade apenas 3 etnias (Tikuna, Kaingang e
Kaiwá) possuem mais de 20.000 pessoas e a média de falantes por língua é de
196 pessoas. 53 povos têm menos de 100 indivíduos e há aqueles com menos de
10 representantes como os Akunsu, com 7 pessoas, os Arua com 6 e os Juma
também com 7 indivíduos. Quando pensamos em grupos indígenas nos
confrontamos com a realidade de povos minoritários.

Nos anos 80 pesquisadores do Museu Goeldi encontraram os dois últimos
falantes do Puruborá. Em 1995 foi identificado um grupo arredio como sendo
falante do até então desconhecido Canoê e Pierre Grenand reconhece a
existência de 52 grupos ainda sem contato com o mundo exterior cujas línguas
não foram estudadas, praticamente todas minoritárias.

O Brasil evangélico não indígena, por sua vez, experimenta desde os anos 80
um rápido crescimento tanto em número de templos como de convertidos, motivo
de louvor a Deus. Isto por outro lado têm nos levado a desenvolver uma
missiologia mais pragmática, que cultua os resultados, do que
Escriturística, que valoriza a obediência à Palavra. Assim tanto a
expectativa missionária por parte do corpo evangélico nacional quanto a
prática no plantio de igrejas valoriza o quantitativo. E isto não será
encontrado no universo indígena pois a conversão de toda uma tribo pode
representar, em alguns casos, apenas uma dúzia de pessoas. Precisamos ser
relembrados do desejo de Jesus: tornar-se conhecido dentre todos os povos,
tribos línguas e nações da terra e isto jamais acontecerá enquanto não
alcançarmos os grupos minoritários. Precisamos de uma Igreja apaixonada por
Jesus e disposta a gastar bastante tempo e recursos no preparo de seus
obreiros a fim de fazer o Evangelho de Cristo conhecido entre todos os
povos, também os minoritários. É preciso encarnar a conceito bíblico sobre o
valor de uma alma. Vale mais que o mundo inteiro.


O apelo da subsistência lingüística

Michael Kraus afirma que 27% das línguas sul-americanas não são mais
aprendidas pelas crianças. Significa que um número cada vez maior de
crianças indígenas perde seu poder de comunicação a cada dia. Isto possui
raízes diferenciadas que vão desde a imposição socioeconômica nas tribos
mais próximas dos vilarejos e povoados até a falta de uma proposta
educacional na língua materna, fazendo-os migrar para o português.

Rodrigues estima que, na época da conquista, eram faladas 1273 línguas, ou
seja, perdemos 85% de nossa diversidade lingüística em 500 anos. Luciana
Storto delata uma crise sociolingüística no estado de Rondônia onde 65% das
línguas estão seriamente em perigo por não serem mais usadas pelas crianças
e por terem um numero pequeno de falantes.

Precisamos perceber que a perda lingüística está associada a perdas
culturais irreparáveis como a transmissão do conhecimento, formas
artísticas, tradições orais, perspectivas ontológicas e cosmológicas.
Perde-se também a ponte de comunicação para um pleno entendimento do
evangelho. No processo de transição, quando a língua materna é perdida,
normalmente há o que podemos chamar de 'geração perdida', um vácuo cultural
que normalmente atinge uma geração inteira. Ou seja, no processo de perda
lingüística e migração para o português, os grupos indígenas normalmente
passam por um processo de adaptação quando não possuem mais fluência na
antiga língua materna e também não aprenderam o suficiente do português para
uma comunicação mais profunda, processo que em média dura 30 anos. Este é um
momento de perigo onde a identidade indígena é auto-questionada, seus
valores perdidos e sobretudo seu poder de comunicação. A presença
missionária catalogando, analisando e registrando a língua indígena a
valoriza perante seu próprio povo e abre caminho para sua preservação. O
Evangelho, assim, não apenas responde os questionamentos da alma mas
contribui para a sobrevivência cultural.


O apelo da tradução bíblica

'Se Deus nos ama, porquê Ele não fala a nossa língua ?'

Estas palavras impactaram a mente de William Cameron Towsend quando
trabalhava com o povo Cakchiquel da Guatemala desde 1919. Após ser
despertado para a necessidade de comunicar o evangelho na língua materna de
cada povo ele se dispôs a fundar a SIL (Sociedade Internacional de
Lingüística) que atua perseverantemente na tradução das Escrituras. Mas esta
não é apenas uma preocupação moderna. Martinho Lutero, reformador
protestante, percebeu rapidamente a incapacidade da Igreja conhecer a Deus
sem conhecer a Palavra e assim lançou em 1534 a primeira edição da Bíblia
por ele traduzida, e em linguagem comum.

A força missionária tem sido ao longo das décadas um divisor de águas na
subsistência das línguas indígenas brasileiras sob o esforço da SIL , Missão
Novas Tribos do Brasil, outras Agências que bravamente se empenham nesta
tarefa e a ALEM que tem contribuído para um forte despertar de interesse
para a tradução bíblica. Boa parte dos resultados historicamente obtidos
nesta área advém do esforço de nossos preciosos irmãos norte-americanos que
valorosamente trabalharam e trabalham na análise e grafia lingüística, e
tradução da Palavra para vários idiomas, como o caso do missionário Robert
Hawkins que dedicou 54 anos de sua vida traduzindo a Bíblia completa para a
língua Wai-Wai. Louvado seja Deus.

O presente apelo é por obreiros brasileiros, com desejo de se esmerarem no
estudo lingüístico e se prepararem da melhor forma possível para transmitir
o evangelho para mais de 120 línguas no Brasil Indígena.



Conclusão

Cerca de 3 anos atrás, quando estávamos integralmente envolvidos com a
evangelização dos Konkombas em Gana na África, participei de uma conferência
em Chicago onde se reuniam missiólogos e missionários de boa parte do mundo.
Muitos temas eram estudados mas sobretudo havia oportunidade para desafios
missionários nas preleções da noite. Em minha sessão, falando sobre povos
ainda não alcançados, tentei confrontar o auditório com um silogismo bíblico
de responsabilidade na comunicação do evangelho dizendo: '... em Gana a
Igreja fortemente expressiva no sul do país ainda não se despertou para as
quase 100 tribos não alcançadas ao norte, dentre elas os
Konkombas-Bimonkpeln com os quais trabalhamos. Infelizmente ainda é
necessário o envio de missionários estrangeiros para o alcance das tribos ao
norte porque a Igreja dorme'.

Na preleção a seguir um norte americano falaria sobre o desenvolvimento de
igrejas autóctones. Ele iniciou seu sermão mais ou menos da seguinte forma:
'Fui missionário por mais de 20 anos na Amazônia brasileira entre indígenas
ainda não alcançados pois apesar da existência de milhões de evangélicos
naquele país não havia missionários suficientes. Isto porquê a Igreja
dorme'.

Senti-me muito constrangido mas reconheci, infelizmente, que suas palavras
não estavam tão longe da verdade. É possível mudar.
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