[etnolinguistica] processos diacrônicos

Denny Moore moore at AMAZON.COM.BR
Sat Feb 8 19:11:27 UTC 2003


Ao primeiro, vou tentar esclarecer o ponto que Eduardo levantou-- sei que a 
minha exposição foi breve demais.  O que seria apagada é a primeira 
consoante, não a forma enteira.  Vamos chamar um sistema como Mawé depois 
desta mudança Mawé2.  As formas então seriam:

glos.                   Mawé                    Mawé2
nome                    set                     et
nome de Fulano  Ful. set                        Ful. set (ou s-et, se prefere)
nome dele               het                     het (ou h-et, se prefere)

Talvez agora dá para ver mais claramente o sistema de três formas em Mawé2, 
que seria um sistema como o /et, ret, set/ de T-G.  A segunda parte do meu 
ponto é que o processo reverso, da criação de um sistema como Mawé de um 
sistema como /et, s-et, h-et/ seria bem mais difícil, pelas razões citadas 
anteriormente.

A minha impressão é que a questão da origem diacrônica do segmento, se foi 
prefixo ou parte do radical, é mais ou menos neutra em termos da análise 
sincrônica e em termos da busca de cognatos.  Todavia, não é neutra em 
termos de, por exemplo, interpretações diacrônicas de fenômenos em 
Munduruku .  Se vai falar em gramaticalização do prefixo como parte do 
radical ou em vestígios do prefixo relacional em Munduruku, a presuposta é 
que o processo diacrônico foi aquele que estou dizendo seria bem mais 
difícil, levando em conta as evidências comparativas fornecidas das 
famílias Mondé e Mawé.  Alguém já apresentou evidências comparativas 
verdadeiras ao favor disto?

Tenho uma certa satisfação diabólica em ser o instigador remoto da atual 
debate, como autor, quase dois anos atrás, da pergunta para Eduardo no seu 
Minor Field Exam, sobre a existência do tronco Macro-Gê (a pergunta mais 
cabeluda que eu podia achar).  Ele respondeu com umas magnificentes 15 
páginas que podemos acessar no site.  O comentário do Silverstein foi, "He 
should clean it up and publish it somewhere like IJAL where it will make a 
splash".

Abraços,

Denny







At 21:57 7/2/2003 -0500, you wrote:
>Prezado Denny,
>
> > A Dulce Franceschini considera o afixo  que deriva formas possessíveis, 
> /he-/, um
> > morfema só, e não /h-e-/.
>
>
>Obrigado por trazer esse tema  -- o 'morfema de posse alienável' -- de 
>volta à discussão. Antes que comecemos um novo mal entendido sobre o que 
>eu NÃO disse, vou me explicar. Nas minhas mensagens sobre o morfema (r)-e- 
>do Tupinambá, (s-)e- em Mawé e seus prováveis cognatos em Macro-Jê, talvez 
>eu tenha mencionado que este morfema tende a pertencer à mesma classe 
>lexical nas diferentes línguas. Para descrever de uma maneira neutra, 
>digamos que morfemas dessa classe tendem a apresentar alterações na 
>consoante no começo do tema em função da pessoa do possuidor -- a chamada 
>classe II em Tupinambá e Karajá. Portanto, não importa se a consoante 
>inicial é parte da raiz ou não.
>
>
>Mesmo que não possamos falar em casos morfológicos e declinações no 
>português, é possível ainda, ao lingüista histórico-comparativo, apontar 
>resquícios destas distinções morfológicas na língua atual. Da mesma forma, 
>mesmo se não podemos falar de 'relacionais' em Mawé, é ainda interessante 
>notar que as alternâncias morfológicas apresentadas pelo prefixo he- ~ e- 
>são muito parecidas com o que temos nessa língua com raízes "da classe II" 
>como 'nome' (he- ocorre naqueles contextos em que het ocorreria, enquanto 
>e ocorre nos contextos em que set ocorreria; vide Franceschini 2001, que 
>eu menciono em algumas mensagens antigas). Citando o Sérgio Meira,
>
>
> > E, de fato, a presença de alternâncias iniciais é um
> > argumento aceitável para a inclusão de uma língua na
> > família celta -- se essas alternâncias ocorrerem exatamente
> > nos contextos certos, e se seus padrões corresponderem
> > regularmente aos padrões da família, etc.
>
>
>Da mesma forma, o fato de que o 'marcador de posse alienável' apresenta 
>alternâncias similares nas diversas línguas (s-iN ~ y-iN em Panará, hiN ~ 
>xiN em Ofayé, r-e- ~ s-e- em Tupinambá, e assim por diante) casa 
>perfeitamente com a situação Mawé; isso reforça a idéia de que estes 
>morfemas (que têm função e comportamento morfológico tão semelhantes nas 
>diversas línguas) sejam de fato cognatos.
>
> >
> > Nestes exemplos, há somente duas formas, não três, e /s/ e /h/ fazem parte
> > do radical; não há questão de 'prefixos relacionais' .   Para produzir um
> > sistema de três formas, como em Tupi-Guarani e Munduruku, se eu entendo os
> > fatos destas línguas corretamente, seria suficiente apagar, através de uma
> > mudança sonora natural, talvez s>h>0, a consonate inicial da forma 
> livre de
> > Mawé, dando /et/.  E, se eu me lembro bem, de fato há vários exemplos de
> > cognatos que exibem correspondênicas do tipo Surui /l/: Mawé /s/:
> > Tupi-Guarani /0/.
>
>Não sou tupinista e nem tenho pretensões de sê-lo; sei que há gente muito 
>mais qualificada nesta lista para lidar com isso. Mas, se entendi bem, 
>haveria um probleminha matemático aqui: se temos duas formas na 
>proto-língua (digamos, uma com s- e outra com h-) e, por uma mudança 
>fonológica natural (regular, eu presumo) uma delas se torna zero, o 
>resultado não seria, mais uma vez, DUAS formas (em vez de TRÊS)? Talvez eu 
>não tenha entendido bem. Nesse caso, peço desculpas de antemão...
>Abraços,
>Eduardo
>
>
>
>Yahoo! Groups Sponsor
>
><http://rd.yahoo.com/m>21efc68.jpg
>Região SP-Centro SP-Zona Norte SP-Zona Sul SP-Zona Leste SP-Zona Oeste 
>SP-Grande SP SP-Litoral SP-Interior RJ-Centro RJ-Zona Norte RJ-Zona Sul 
>RJ-Niteroi RJ-Litoral RJ-Serras RJ-Baixada Flum. RJ-Ilhas RJ-Outros Munic. 
>Lançamentos Revenda Locação Temporada
>Apartamentos Casas Flats/Hoteis Escritórios Lojas Terrenos Galpões Rurais
>
>Para cancelar sua assinatura deste grupo, envie um e-mail para:
>etnolinguistica-unsubscribe at yahoogrupos.com.br
>
>
>
>Seu uso do Yahoo! Grupos é sujeito aos 
><http://br.yahoo.com/info/utos.html>Termos do Serviço Yahoo!.
-------------- next part --------------
An HTML attachment was scrubbed...
URL: <http://listserv.linguistlist.org/pipermail/etnolinguistica/attachments/20030208/a04ec95b/attachment.htm>
-------------- next part --------------
A non-text attachment was scrubbed...
Name: 21efc68.jpg
Type: image/jpeg
Size: 765 bytes
Desc: not available
URL: <http://listserv.linguistlist.org/pipermail/etnolinguistica/attachments/20030208/a04ec95b/attachment.jpg>


More information about the Etnolinguistica mailing list