Sobre Kaingang na Argentina

eduardo_rivail kariri at GMAIL.COM
Sat Feb 3 19:55:00 UTC 2007


Caro Pedro (e demais colegas),

Muito obrigado por suas observações e desculpe-me por levar tanto
tempo para responder.  Suas mensagens me levaram a repensar meu
pessimismo inicial. Embora eu tenha preferido me limitar às
semelhanças mais óbvias, concordo que muitos dos exemplos
adicionais que você menciona podem vir a ser de fato [cognatos com
termos] Kaingáng (exceto, creio eu, formas como 'estrela', 'fogo',
'sol', etc.).

E diria mais: no caso da forma para 'olho', (apin)tá, a vogal é o
que seria de se esperar, considerando que em (Pré-)Proto-Jê do Sul
a vogal *ò do Proto-Jê se tornou *a, em um processo sistemático
de rebaixamento vocálico envolvendo vogais posteriores (cf. Ribeiro
2005, 'Reconstructing Proto-Jê: A review of Davis (1966)',
apresentado em Belém, e Ribeiro 2006, 'A reconstruction of
Proto-Jê', apresentado no ICA em Sevilha); compare este exemplo com
'cinza', que ilustraria o mesmo fenômeno. E, no caso de 'braço', o
Jê Meridional de fato preservou um cognato com o Proto-Jê *pa: em
Kaingáng, por exemplo, é peN. O termo Proto-Jê para 'madeira,
árvore' (que eu reconstruo como  *ko) também tem cognatos em Jê
Meridional: Xokléng kò, Kaingáng ka (por isso tendo a discordar
da possibilidade de Guayaná kuche ser um cognato, por causa do
processo de mutação vocálica, aparentemente em cadeia, que
menciono acima).

O problema é que restam muitas inconsistências em termos de
correspondências fonológicas. Por exemplo, o Proto-Jê do Sul
(como, aliás, as línguas Jê do Sul atuais) preserva basicamente
o mesmo sistema de oclusivas do Proto-Jê. As consoantes em 'olho',
'braço' e 'barriga' destoariam desta tendência. Como os dados
são poucos, não dá pra saber se tais inconsistências se
devem a verdadeiras inovações ou simplesmente a uma transcrição
inconsistente (o que soía acontecer em tais circunstâncias) -- ou,
enfim, se se devem ao fato de os dados terem sido fornecidos por um
falante não nativo.

Para mim, essa discussão tem, entre outros, o mérito de demonstrar
a necessidade de reavaliarmos a literatura criticamente (o artigo do
Wilmar, neste sentido, é um guia excelente). Por isso, fico
muitíssimo grato por você nos ter enviado o vocabulário
"Guayaná" e pelas contribuições do Renato e do Victor -- um
exemplo e tanto de cooperação acadêmica. Espero poder ter acesso
ao material Ingain em breve, para ter uma idéia melhor da
situação.

Daqui a pouco respondo a sua outra mensagem.

Abraços,

Eduardo


--- Em etnolinguistica at yahoogrupos.com.br, Pedro Viegas Barros
<peviegas2003 at ...> escreveu
>
> Estimado Eduardo:
>
>   ¿Cómo está? Gracias por la respuesta.
>   Sobre las palabras del vocabulario de Ramón Lista, algunas
parecen préstamos de lenguas bien conocidas. El término
"guayaná" dado por Lista para `cuchillo', cochá, podría
ser un préstamo de alguna lengua Tupi-Guaraní (Guaraní kyse,
Mbya kytSi, etc.), o incluso podría provenir del propio término
español cuchillo. La forma para `víbora' tiene un comienzo
mbe- que recuerda términos Tupí-Guaraníes, y podría ser
préstamo de tal origen.
>   En el resto, encuentro -fuera de las que Ud. menciona-, unas ocho
semejanzas más con formas Kaingáng:
>
>   Cabellos                   Ñamignai  [K -gaNñ]
>   Frente (la)                Acucá   (apucá) [K kakaN
`rosto, testa']
>   Estrella                     Prá  [K kriNg]
>   Fuego                       Npai  [K piN]
>   Mono                       Quiñere  [K kayeNr]
>   Olla                          Curuguá  [K kukruN]
>   Sol                           Roiñá  [K raN]
>   Zapallo                    Pohó [K pèho]
>
>               En otros cinco términos, todos nombres de partes de
cuerpo, al quitar un elemento inicial ami- o ame- quedan formas
también parecidas al Kaingáng:
>
>   Boca                      Amincá  [K -jèNky]
>   Dientes                  Amiyao  [K -jaN]
>   Manos                    (amenencá)  [K -niNgè]
>   Nariz                       Amiñá     [K -ñiNjèN]
>   Oreja                      Aminerá  [K -niNgreNg]
>
>               Otras palabras no parecen tener cognados en Kaingáng,
pero sí en otras lenguas de la familia Jê:
>
>   Brazo                     (ammá) [Proto-Jê *pa]
>   Pescuezo              Ambbruy [PJ *mut]
>   Vientre                   Ndao [PJ. *-tu(m)]
>
>               Nótese que en los dos primeros de esos casos
habría que suponer un prefijo a- o am-.
>
>               Creo que se puede comparar también Cuche
`monte' (sin duda en el sentido de `bosque, selva', como
en el español de gran parte de la Argentina y del Paraguay) con PJ
*ku `madeira, tronco'.
>
>               Finalmente, en el siguiente caso, hay formas Jê
comparables si se elimina un elemento inicial api-:
>
>   Ojos                      Apintá   [PJ *nò, Canela -tò]
>
>               Todo esto me lleva a suponer que este "guayaná"
tiene muchas posibilidades de debe haber sido una lengua Jê; y parece
que el Jê Meridional sería la rama de la familia más afín.
>
>               La cuestión que mencionaba en mi mail anterior sobre
la posible presencia de gentes de habla Jê en regiones meridionales
de la Mesopotamia argentina, al menos hasta el siglo XVIII, me resulta
interesante, porque en mi investigación con quien parece el último
semi-hablante de la lengua Chaná (familia Charrúa), en Entre
Ríos, me he ebcontrado con alguna que otra palabra que recuerda al
Jê (como tapo 'tarucha, un pez comestible', cf. PJ *tèp 'pez';
aunque casualmente esta palabra no tiene cognado en Kaingáng).
>
>              Un abrazo,
>
>   J. Pedro Viegas Barros
>
>
> Eduardo Rivail Ribeiro kariri at ... escreveu:
>               Caro Pedro,
>
>   Como vai? Muitíssimo obrigado por compartilhar conosco a lista
lexical do "guayaná". Curiosamente, não parece se tratar do
Kaingáng (Jê do Sul) ou de língua geneticamente próxima.
>   É o que se constata ao comparar a lista guayaná com, por
exemplo, os dados do dicionário Kaingáng de Wiesemann
(disponível online,
http://www.sil.org/americas/brasil/PUBLCNS/DICTGRAM/KGDict.pdf). Apenas
uma meia dúzia de palavras apresentam semelhanças fonéticas
mais óbvias com palavras de significados equivalentes em Kaingáng
e/ou outras línguas (Macro-)Jê.
>
>   Supondo-se que os termos para parentesco e partes do corpo humano
ocorrem, na lista, com um prefixo possessivo (?) a-, as raízes para
'mãe' e 'coxa' são as que mais se assemelhariam aos termos
Kaingáng equivalentes, o mesmo podendo se dizer da palavra para 'mel'
(note-se que as vogais em 'mãe' e 'mel' são as mesmas em
Kaingáng e guayaná). Em grau menor, a palavra para 'cinza'
também apresentaria semelhança. E, com um pouco de imaginação,
a palavra para 'milho' lembraria o equivalente Kaingáng e a palavra
para 'pedra' se pareceria com o termo que ocorre nas línguas dos
ramos setentrional e central da família Jê.
>
>     Madre                    Anñá [Kaing. nyN, jyN]
>   Miel de abeja          Má [Kaing. myNg]
>   Muslo                     Acré [Kaing. kre]
>
>   Ceniza                    Nmará [Kaing. mreNj]
>
>
>     Maíz                       Dan (quengtá) [Kaing. gãr]
> Piedra                     Queré (quné) [Jê Setentrional
kèn]
>
>
>   De qualquer modo, parecer-me-ia pouco para sustentar a possibilidade
de parentesco genético, mesmo que distante. O que você acha?
>
>   Então, se não for Kaingáng, que língua seria? Algum
colega teria notado semelhanças com outras línguas conhecidas?
>
>   Abraços,
>
>   Eduardo
>
>
>     ----- Original Message -----
>   From: Pedro Viegas Barros
>   To: etnolinguistica at yahoogrupos.com.br
>   Sent: Tuesday, November 28, 2006 6:07 PM
>   Subject: Re: [etnolinguistica] Sobre Kaingang na Argentina
>
>
>
>   Estimados colegas:
>
>   Quiero felicitar públicamente a los responsables de la
traducción y publicación del trabajo de Ambrosetti. Me parece muy
importante que este trabajo se publique en el único país donde
actualmente se habla Kaingáng, Brasil, aunque la lengua también se
habló en territorios pertenecientes actualmente a Argentina y
Paraguay.
>   Si no me equivoco (no soy especialista en la lengua), para el
Kaingáng que se habló en la Argentina, el de Ambrosetti sería
el único registro existente.
>   Con respecto al Kaingáng de Paraguay (que posiblemente haya sido
un dialecto distinto a los demás), lo único que conozco es el
reducido vocabulario "guayaná", de 64 palabras, publicado por
primera vez en 1883 por Ramón Lista (Lista 1998: 344-45), el cual
habría sido compilado por "
el teniente del Ejército
paraguayo, D. Domingo Patiño, que practicó en 1863 un rápido
reconocimiento del Alto Paraná, dando cuenta a su Gobierno de los
resultados de su comisión, en un extenso informe publicado en 1881
por la imprenta de ''La Reforma'' de la Asunción, con el título de
''Diario de un viaje por el Paraná''" (Lista 1998: 344, nota al
pie de página). A estas palabras, Lista agregó 9 términos
recogidos por él mismo en 1882 en Villa Azara (hoy Domingo
Martínez de Irala).
>   Dado que estos materiales del Kaingáng paraguayo parecen ser poco
conocidos, creo que puede ser de algún interés reproducirlos
aquí. Los términos entre paréntesis son los que habrían sido
recogidos por Lista, los demás son los de Patiño, siguiendo el
mismo orden y con las mismas grafías y las mismas glosas con que
Lista los publicara bajo el título de Vocabulario de la lengua
Guayaná (de acuerdo a la edición de 1998):
>
>   Agua                      Cran   (pranl)
>   Arroyo                   Ramuel
>   Anzuelo                 Amiriyá
>   Boca                      Amincá
>   Brazo                     Aguá   (ammá)
>   Cabeza                   Aparé   (ancai)
>   Cabellos                 Ñamignai
>   Collar                     Amintao
>   Canoa                     Neá
>   Camisa                   Unamá
>   Cuchillo                  Chambrá   (cochá)
>   Cejas                       Aspingrá
>   Ceniza                     Nmará
>   Cielo                       Asó   (ard)
>   Dientes                    Amiyao
>   Estrella                    Prá
>   Frente (la)                Acucá   (apucá)
>   Fuego                      Npai
>   Hombre                   Cuerá
>   Hacha                      Nerán
>   Hijo                         Antrá
>   Hija                         Ambié
>   Indio                        Quimdá
>   Jabalí                       Neré
>   Leon (puma)            Chichar
>   Leña                         Amirybiyá
>   Luna                         Priihí
>   Manos                       Amincaminuitá   (amenencá)
>   Mono                        Quiñere
>   Monte                       Cuche
>   Maíz                         Dan   (quengtá)
>   Madre                       Anñá
>   Miel de abeja            Má
>   Muslo                        Acré
>   Nariz                         Amiñá
>   Olla                           Curuguá
>   Ojos                          Apintá
>   Oreja                         Aminerá
>   Pescuezo                   Ambbruy
>   Pescado                     Ndayá
>   Porongo                     Lá
>   Pestañas                     Apitamingay
>   Patillas                       Amiyuíag
>   Pecho                         Amintá   (amlé)
>   Pala de canoa             Yutá   (itá)
>   Piedra                         Queré   (quné)
>   Poncho                       Nlí
>   Quijada                      Amincrará
>   Rana                          Ndaú
>   Sol                             Roiñá
>   Tigre                          Chuchí
>   Vientre                       Ndao
>   Víbora                        Mbechá
>   Zapallo                       Pohó
>   Zapo                           Npaó
>
>   Referencia:
>   LISTA, Ramón (1998): El territorio de las Misiones, Obras, tomo I
(1877-1886). Buenos Aires: Editorial Confluencia.
>
>
>
>   Voy a aprovechar la presente incursión en este foro para hacer
una pregunta que hace algún tiempo quiero formular a los
especialistas en Kaingáng.
>   Algunos autores han especulado con que ciertos grupos aborígenes
de las provincias argentinas de Corrientes y Entre Ríos durante los
siglos XV a XVII, de los cuales casi no hay más datos que los
etnónimos, podrían haber estado emparentados lingüísticamente
con los Kaingáng
>   Se dice –entre otras cosas- que el gentilicio Cainaróes
"
significa algo así como "Cabelludos" en idioma
Cáingang" (cito de "Los caingang de la Mesopotamia
argentina", http://caingang.pais-global.com.ar). En el mismo lugar
se continúa diciendo luego que "
es indudable que toda esa
población precharrúa de la Mesopotamia Argentina era de estirpe
cáingang. Por consenso general, lo eran los llamados Gualachies del
norte, y lo eran también los Yaróes del sur. Lo fueron igualmente
toda un aserie de pequeñas entidades que, cual los Guayquirarós,
los Cupizalós y los Eguarós, son mencionados por las fuentes
históricas del siglo XVIII en el interior de Corrientes. Y lo son
finalmente muchos topónimos de la misma región". Con respecto
a esto último, creo  el autor debe estar refiriéndose a alguna
interpretación hecha originalmente hace unos 70 u 80 años por
Antonio Serrano (no tengo aquí la referencia exacta, cito de memoria)
de un topónimo como Nogoyá a partir del Kaingáng goj
>  `agua'

>   Mi pregunta dirigida a los especialistas en Kaingáng es:
¿Qué puede haber de cierto en estas especulaciones?
>
>   Desde ya, muchísimas gracias por la(s) respuesta(s).
>               Cordialmente,
>
>   J. Pedro Viegas Barros
>
>
>   .
>
>
>
>
>
>
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