Fwd: A guerra pelas almas
Renato Athias
renato.athias at GMAIL.COM
Thu Jul 24 23:39:18 UTC 2008
Especial para impressão:
http://www2.correiobraziliense.com.br/cbonline/brasil/pri_bra_91.htm?
<http://www2.correiobraziliense.com.br/cbonline/brasil/print.htm#>
<http://www2.correiobraziliense.com.br/cbonline/brasil/print.htm#>
QUESTÃO INDÍGENA
A guerra pelas almas
Projeto de lei criado por evangélicos busca criminalizar o infanticídio nas
tribos. Para especialistas, proposta é reflexo da atuação de entidades que
tentam converter os índios ao cristianismo sem respeitar sua cultura
------------------------------
Leonel Rocha
Da equipe do Correio
<http://stat.correioweb.com.br/cw/EDICAO_20080724/fotos/a16-01.jpg>A disputa
entre católicos e os vários segmentos evangélicos chegou à taba. O Projeto
de Lei nº 1057, que considera criminosa a pessoa que praticar ou conhecer e
não denunciar o infanticídio indígena, é a parte visível da guerra pelas
almas dos índios brasileiros. Prevista para ser votada no segundo semestre
pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados,
a proposta divide religiosos, indigenistas e antropólogos sobre a prática de
alguns povos que sacrificam crianças portadoras de necessidades especiais e
comprometimento cerebral, entre outros casos. A disputa para cristianizar os
índios coloca, de um lado, missionários católicos e, do outro, alguns
segmentos evangélicos que patrocinam o projeto.
Apresentado no ano passado pelo deputado evangél ico Henrique Afonso
(PT-AC), o PL não tem data para ser votado no plenário da Câmara. Há uma
semana, uma manifestação no Congresso levou grupos de militantes evangélicos
de várias denominações a reivindicar a aprovação da lei. O parecer da
deputada Janete Pietá (PT-SP) descarta a criminalização do infanticídio
indígena. Pietá optou por um texto, ainda a ser votado na CDHM, prevendo a
criação de um conselho tutelar indígena e a adoção de uma campanha educativa
para evitar o infanticídio, ainda mantido por povos como os Suruwará. Eles
vivem entre os rios Purus e Juruá, no Amazonas, e consideram a morte de
crianças um instrumento de controle de natalidade. A prática foi tema do
filme Hakani, produzido pelo escritório brasileiro da organização evangélica
Jovens com um ideal (Jocum), como parte de uma campanha internacional pelo
fim do infanticídio nas tribos.
*Batalha*
A disputa pelas almas dos Suruwará motivou uma batalha judicial entre
católicos e evangélicos. Em contato com os índios desde 1980, há cinco anos
o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), da Igreja Católica, entrou com
uma representação no Ministério Público Federal contra a atuação da Jocum na
aldeia. A representação foi motivada por um "diário de campo" deixado pelos
evangélicos na aldeia e encontrado por missionários do Cimi. Segundo a
entidade, o texto continha uma doutrina que considera as religiões indígenas
uma manifestação demoníaca, o mesmo princípio usado historicamente pela
Igreja Católica desde o Descobrimento e abandonado na década de 1960. A
Procuradoria da República em Manaus conseguiu que a Justiça determinasse a
saída dos missionários da Jocum da aldeia. Mas a organização resiste em
deixar a área, alegando que está ali para combater o sacrifício de crianças
doentes.
"Qualquer religião é perversa com os indígenas. Os missionários tentam
colonizar os índios impondo o pecado e o medo do inferno", critica Gersem
Baniwa, doutor em antropologia e indígena que viveu até os 10 anos na aldeia
Yakirana, no Amazonas. "As religiões ocidentais surgiram para dominar
cultural e espiritualmente o mundo e também os índios. É o imperialismo
religioso que acaba com a convivência coletivista das aldeias", lamenta.
Entre as conseqüências da atuação religiosa nas aldeias está a mudança de
hábitos e rotinas dos indígenas. Uma delas é a guarda de um dia de descanso
depois de uma semana de trabalho, como está na Bíblia. Poucos índios adotam
o calendário ocidental, mas a lguns grupos estão sendo convencidos a adiar
pescarias ou caças por ser sábado ou domingo.
*Arsenal*
Para transformar índios em cristãos, católicos e evangélicos não medem
esforços. Montaram um arsenal para a tarefa. Fundado na década de 1970, o
Cimi conta com cerca de 350 missionários padres e leigos, possui rádio,
revista e jornal. Os evangélicos fundaram a Associação de Missões
Transculturais Brasileiras (AMTB), que reúne 600 missionários e abriga
diferentes entidades. A organização da AMTB, que tem 25 agências entre os
índios brasileiros, chega ao detalhe de fazer um levantamento sobre quais
tribos já foram evangelizadas e quantas ainda estão isoladas. A ONG detalha
em seu site quais etnias possuem a Bíblia completa no próprio idioma e
define como objetivo levar os princípios evangélicos a 120 outros povos. Na
internet, a AMTB chega a oferecer a adoção de vários povos que, segundo
eles, não conhecem a palavra de Deus.
Nessa guerra, evangélicos e católicos apresentam estratégias diferentes. O
antropólogo e pastor presbiteriano Ronaldo Libório, um dos coordenadores da
AMTB, nega que os missionários da associação obriguem os índios a adotarem o
cristianismo como religião, abandonando suas culturas. Segundo ele, os
valores do evangelho não são incompatíveis com nenhuma sociedade humana,
muito menos os índios. Revela que, no processo de conversão dos indígenas,
há batismo, mas ressalva que a principal atividade dos missionários é
aliviar o sofrimento dos povos das florestas com a implantação de projetos
sociais nas áreas de saúde e educação.
Já os missionários do Cimi não consideram o infanticídio uma prática
selvagem dos índios e defendem que essa cultura tem lógica nas aldeias com
pouco contato com a cultura ocidental. "Não podemos tratar os índios que têm
essa prática como bandidos", argumenta Saulo Feitosa, secretário adjunto do
Cimi. A entidade inaugurou há alguns anos um novo método de evangelização.
Não batiza as crianças indígenas e aceita a teologia e os rituais dos
diversos povos. Os católicos adotam o que chamam de "missão calada" e
esperam que só com o exemplo possam conquistar almas dentro das florestas.
O proselitismo cristão nas aldeias assusta estudiosos e indigenistas. O
antropólogo Rubem Thomaz de Almeida defende que o governo estabeleça regras
para a entrada e permanência dos missionários nas aldeias. "Os missionários
católicos adotam a educação clássica como método de dominação política. Os
evangélicos impõem proibições que impedem o diálogo cultural com os índios",
analisa. O ex-presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Mércio
Pereira, defende a saída dos missionários da convivência direta com os
indígenas. Ele entende que, antes da Bíblia, os índios deveriam ter uma
educação formal laica para evitar práticas como o infanticídio, por exemplo.
"O que esses missionários cristãos querem mesmo é salvar as próprias almas",
critica.
------------------------------
Os missionários tentam colonizar os índios impondo o pecado e o medo do
inferno
Gersem Baniwa, antropólogo
O que esses missionários cristãos querem mesmo é salvar as próprias almas
Mércio Pereira, ex-presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai)
------------------------------
Por um novo modelo
O movimento evangélico indígena vai ganhar uma nova força em setembro e pode
mudar de cara. O Conselho de Pastores e Líderes Evangélicos Indígenas
(Conplei), entidade criada em 1990 e dirigida por representantes de vários
povos, vai realizar, em setembro, no Amazonas, o sexto congresso da
instituição para definir o modelo de cristianismo evangélico que será
pregado nas aldeias. A Bíblia será difundida sem a participação de
missionários "ocidentais". "Defendemos o interc âmbio cultural e religioso,
com respeito às nossas tradições e uma evangelização contextualizada à nossa
vida", explica Eli Ticuna, militante evangélico, teólogo e estudante de
mestrado em administração.
O conselho funciona como uma supra-organização nacional de índios
evangélicos, espécie de concorrente direto do Conselho Indigenista
Missionário(CIMI), da Igreja Católica. Um dos principais objetivos é evitar
a forma de atuação de pastores evangélicos que não pertencem às aldeias.
"Queremos uma igreja com a cara do índio, que respeite a nossa diversidade
cultural e não nos imponha conceitos", define Eli. O diálogo proposto pelo
Conplei é mais fácil com as denominações evangélicas do que com os
católicos.
-------------- next part --------------
An HTML attachment was scrubbed...
URL: <http://listserv.linguistlist.org/pipermail/etnolinguistica/attachments/20080724/e89f13d0/attachment.htm>
-------------- next part --------------
A non-text attachment was scrubbed...
Name: aspafecha.gif
Type: image/gif
Size: 155 bytes
Desc: not available
URL: <http://listserv.linguistlist.org/pipermail/etnolinguistica/attachments/20080724/e89f13d0/attachment.gif>
-------------- next part --------------
A non-text attachment was scrubbed...
Name: logocw.gif
Type: image/gif
Size: 735 bytes
Desc: not available
URL: <http://listserv.linguistlist.org/pipermail/etnolinguistica/attachments/20080724/e89f13d0/attachment-0001.gif>
-------------- next part --------------
A non-text attachment was scrubbed...
Name: a16-1.jpg
Type: image/jpeg
Size: 11847 bytes
Desc: not available
URL: <http://listserv.linguistlist.org/pipermail/etnolinguistica/attachments/20080724/e89f13d0/attachment.jpg>
-------------- next part --------------
A non-text attachment was scrubbed...
Name: print.gif
Type: image/gif
Size: 471 bytes
Desc: not available
URL: <http://listserv.linguistlist.org/pipermail/etnolinguistica/attachments/20080724/e89f13d0/attachment-0002.gif>
-------------- next part --------------
A non-text attachment was scrubbed...
Name: envie.gif
Type: image/gif
Size: 550 bytes
Desc: not available
URL: <http://listserv.linguistlist.org/pipermail/etnolinguistica/attachments/20080724/e89f13d0/attachment-0003.gif>
-------------- next part --------------
A non-text attachment was scrubbed...
Name: aspaabre.gif
Type: image/gif
Size: 156 bytes
Desc: not available
URL: <http://listserv.linguistlist.org/pipermail/etnolinguistica/attachments/20080724/e89f13d0/attachment-0004.gif>
More information about the Etnolinguistica
mailing list