Palavras para 'flecha envene nada' em l ínguas Tupí(-Guaraní)
Eduardo Rivail Ribeiro
kariri at GMAIL.COM
Mon Jun 23 21:59:19 UTC 2008
Prezados,
A todos aqueles que responderam a minhas perguntas (Victor, Mônica e Dioney), meu muitíssimo obrigado. Em vista dos dados, parece-me provável que a origem desta palavra em Karajá é mesmo Tupi-Guarani -- se bem que a fonte continua sendo um mistério.
Há alguns detalhes que me esqueci de compartilhar com vocês:
(a) j- (em j-uasa, a forma de citação), uma africada alveopalatal sonora, é a forma que o prefixo "relacional" toma quando ocorre antes de vogais altas [+ATR]; nos demais ambientes, é d- ou l-;
(b) na forma de terceira pessoa equivalente (tx-uasa), o prefixo é tx-, uma africada alveopalatal surda; nos demais ambientes, o prefixo de terceira pessoa é t- (uma implosiva alveolar).
A forma da raiz varia entre (j-)uasa e (j-)uwasa -- forma, esta última, que estaria ainda mais próxima (da maioria) das formas Tupi.
Enfim, é possível que o Karajá tenha recebido o empréstimo com um prefixo equivalente ao t- do Mundurukú, nos exemplos de Dioney (cognato do prefixo de possuidor humano em TG?): 'flecha venenosa de alguém'. Em empréstimos, o /t/ das línguas Tupí-Guaraní (também o do português) é sistematicamente interpretado como a implosiva alveolar do Karajá. A consoante inicial, por razões fonotáticas do Karajá, teria sido palatalizada. E, por analogia com formas nativas, o tx- teria sido analisado como um prefixo de terceira pessoa.
Este é apenas um cenário, claro. Mas o fato de que não parece ser um empréstimo da Língua Geral ou do Tapirapé é o que me parece mais interessante, por sugerir contatos outros, talvez até mesmo com povos do Xingu -- de volta à tese de Baldus!
Bem, por enquanto é isto. De novo, muito obrigado!
Abraços,
Eduardo
----- Original Message -----
From: Dioney Moreira Gomes
To: etnolinguistica at yahoogrupos.com.br
Sent: Sunday, June 22, 2008 4:49 PM
Subject: [etnolinguistica] Re: Palavras para 'flecha envenenada' em línguas Tupí(-Guaraní)
Olá, Eduardo!
A palavra para 'flecha' em Mundurukú é "op". Ela pode ou não ser
possuída. Se possuída, usa-se o prefixo "d-" entre o possuidor e a
coisa possuída: o=d-op 'minha flecha'. Caso o possuidor não esteja
explícito no sintagma, ocorre o prefixo "t-": t-op 'flecha de alguém'.
Um grande abraço!
Dioney
--- Em etnolinguistica at yahoogrupos.com.br, "eduardo_rivail"
<kariri at ...> escreveu
>
> Prezados,
>
> Venho desconfiando, há algum tempo, que a palavra para 'flecha
> envenenada' em Karajá -- j-uasa -- pode vir a ser um empréstimo de
> alguma língua Tupí (cf. Lemos Barbosa, Pequeno Vocabulário
Português-
> Tupi, p. 107: uúba 'flecha', uubassy 'flecha envenenada'; como em
> Tupi, esta palavra pertence à classe de raízes que levam o
> chamado 'prefixo relacional').
>
> Por razões fonológicas, não me parece que KRJ juasa seja de origem
> Tapirapé ou Língua Geral ("the usual suspects"); talvez pertença a
> uma outra camada, mais antiga, de empréstimos Tupi em Karajá.
>
> Enfim, ficaria muito grato se os colegas da lista pudessem me
> fornecer os equivalentes de uubassy em outras línguas Tupí,
> especialmente as do Centro-Oeste (regiões do Xingu e Tocantins, em
> particular). Ocorreriam cognatos em outras línguas Tupí além da
> família Tupí-Guaraní?
>
> Mais uma vez, obrigado!
>
> Abraços,
>
> Eduardo
>
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