Sobre algumas palavras...

Eduardo R. Ribeiro kariri at GMAIL.COM
Mon Nov 30 15:47:27 UTC 2009


Prezados,

Sobre "mané", eu sempre pensei que tivesse a ver com a irreverência do brasileiro para com os portugueses. "Manuel" (comumente abreviado para "Mané" no português brasileiro) é visto como nome lusitano por excelência; em piadas de português, há sempre um Manuel (às vezes, acompanhado por um Joaquim), retratado como um sujeito pouco esperto -- ou seja, um mané.

No mais, sobre a interjeição de negação e xará, concordo integralmente com o Sebastian.

Abraços,

Eduardo

  ----- Original Message ----- 
  From: Sebastian Drude 
  To: etnolinguistica at yahoogrupos.com.br 
  Sent: Monday, November 30, 2009 8:53 AM
  Subject: Re: [etnolinguistica] Sobre algumas palavras...


    
  Oi Jefferson,


  creio que a palavra "não" ( _ã?ã_ e semelhantes) não é apropriada para tirar quaisquer conclusões sobre relações lingüísticas.  Já a forma (em particular, a reduplicação) mostra que a palavra se assemelha mais a uma onomatopeia ou é pelo menos um simbolsimo sonoro.

  Em muitas línguas claramente não relacionadas você pode indicar "não" desta forma, inclusive em Alemão, minha língua materna (lá são dois Schwas com oclusivas glotais, e sem ser nasal).  Importante é a intonação -- a primeira sílaba tem que ser mais alta do que a segunda.

  Se você inverte esta intonação, você obtem uma forma que diversas línguas pode sinhalar um "sim".  Inclusive em Awetí a única palavra isolada para "sim" é _eh~e_ (com nasalidade no segundo e, e por harmonia nasal também no primeiro), com tonalidade alta na segunda sílaba, e apesar de agora já lexicalizada (ela aparece até em lexicalizações, como _eh~e 'etu_ "concordar", literalmente "dizer sim"), ela não me parece apropriada para estudos diacrônicos exatamente pela forma de onomatopeia.  Mas é interessante que em várias línguas do Alto Xingú se diz "sim" assim, pode ser um indício para empréstimos (fraco, já que fora da área esta simbologia também existe).

  Oi seja, estou convicto que estas formas para "sim" e "não" podem muito melhor servir para um estudo para possíveis universais (se a intonação é confirmada em muitas línguas, inclusive em outros continentes, e se o material segmental para carregar esta intonação muda conforme os padrões fonológicos de cada língua) do que para relações genéticas entre línguas.

  Quanto à palavra "xará", a explicação da origem desta que ouvi era que seria corruptela de _xe-réra_, "meu nome", do Guaraní.  Mas sempre me perguntei porque ou a vogal tônica mudou sua qualidade de _e_ para _a_, ou porque então o acento lexcical mudou para a última sílaba (o _a_ do famoso caso genérico do Tupí-Guaraní) e porque a sílaba _re_ depois teria caido.  Há muitos outros empréstimos do Tupí (ou Guaraní) em que nenhuma das duas mudanças ocorreu.  Mas as explicações apresentadas até agora também não me convencem muito (apixara também teria que mudar seu acento lexical), então talvez valha contribuir com esta... 

  Não sei nada a dizer sobre _mané_ ou _maném_.

  Cordialmente,

  Sebastian
  -- 
  | Sebastian Drude (Linguist)
  | Sebastian.Drude at fu-berlin.de & Sebastian.Drude at googlemail.com
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